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II Congresso Afrobrasileiro - uma releitura 81 anos depois...

Legado do Segundo Congresso Afrobrasileiro (81 anos) será debatido no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, de 11 a 13 de setembro

O legado do Segundo Congresso Afrobrasileiro, realizado em Salvador, em 1937, será lembrado de 11 a 13 de setembro, na sede do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.

Durante o encontro, que vai reunir dezenas de especialistas de todo o país, estará em debate a realidade da população afro-brasileira e a valorização da contribuição africana para a formação da sociedade.

Serão temas das comunicações: “Culturas Negras: problemas de aculturação no Brasil”, “Ligeira explicação sobre a Nação Congo”, “Influência da mulher negra na educação do brasileiro”, “O negro e a cultura no Brasil”, “O mundo religioso do negro da Bahia”, “Castro Alves e a poesia negra da América”, “Deuses africanos e santos católicos nas crenças do negro do novo mundo”, “A liberdade religiosa no Brasil: a macumba e o batuque em face da lei”, “Presença africana na música nacional de Cuba”, “A concepção de Deus entre os negros iorubas”.

A metodologia dos trabalhos prevê que os especialistas convidados façam uma leitura crítica dos textos publicados nos Anais do II Congresso, atualizando os temas tratados em cada um deles.

Há 81 anos, sob a coordenação da Comissão Executiva formada por Edison Carneiro, Martiniano Bonfim, Aydano do Couto Ferraz, Azevedo Marques e Reginaldo Guimarães; os objetivos principais do congresso, ocorrido de 11 a 20 de janeiro,eram estudar a influência do elemento africano no desenvolvimento do Brasil, sob o ponto de vista da etnografia, do folclore, da arte, da antropologia, da história, da sociologia do direito e da psicologia social.

O 2º Congresso Afro-Brasileiro centralizou o debate na realidade da população afro-brasileira, tendo em consideração que nele tomaram parte não só os intelectuais e estudiosos da temática afrodescendente, participaram também sacerdotes do culto afro, ou povo de santo, que de forma inédita, até aquele momento, abriram os terreiros e barracões, realizando atividades especialmente para os participantes do Congresso.

O público também terá acesso a publicações de jornais de 1937, com a cobertura do congresso. Um estande da Edufba será montado com livros da temática, no panteon do IGHB.

O livro “O intelectual feiticeiro: Edison Carneiro e o campo de estudos das relações raciais no Brasil” (Ed. Unicamp), de autoria do professor Gustavo Rossi, encerrará o evento.Trata da trajetória do jornalista, etnógrafo e fol­clo­rista Edison Carneiro, intelectual baiano, cujos trabalhos esti­veram decisivamente implicados no desenvolvimento das pesquisas sobre as relações raciais e as culturas de origem africana no Brasil.

A inscrição para participação no simpósio está encerrada, mas quem tiver interesse pode acompanhar os trabalhos ao vivo, com transmissão pela página do facebook do Instituto.

O evento é promovido pelo IGHB com patrocínio do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia(IPAC)/Secult/GovBA, e apoio do Centro de Estudos Afro-Orientais da Ufba.

Mais informações no site www.ighb.org.br

Acompanhe a programação completa:

Dia 11/09 (terça-feira)

8h30 às 9h30- Credenciamento

9h30 às 10h - Abertura: Eduardo Morais de Castro, Arany Santana, João Carlos Oliveira, Joilson Rodrigues de Souza

10h - Conferência de Abertura – Prof. Dr. Gustavo Rossi

11h - Debate

12h - Intervalo para Almoço

14h - Comunicação: Um sistema de referência para o estudo dos contatos raciais e culturais, Donald Pierson – Prof. Dr. Lívio Sansone

15h - Comunicação: Culturas Negras: problemas de aculturação no Brasil – Prof. Dr. Cláudio Pereira

16h - Comunicação: Os ministros de Xangô, Eliseu Martiniano do Bonfim – Prof. Dr. Fábio Lima

17h - Comunicação: Ligeira explicação sobre a Nação Congo, Manuel Bernardino da Paixão – Prof. Dr. Marlon Marcos

Dia 12/09 (quarta-feira)

9h-Comunicação: Influência da mulher negra na educação do brasileiro, Amanda Nascimento –Profa. Dra. Florentina Souza

10h - Comunicação: Notas sobre Comestíveis Africanos – Profa. Me. Lindinalva Barbosa, Prof. Dr.JefersonBacelar

11h - Comunicação: O Negro e o espírito guerreiro nas origens do Rio Grande do Sul – Profa. Dra. Cintia Muller

12h - Intervalo para Almoço

14h - Comunicação: O negro e a cultura no Brasil, Renato Mendonça – Profa. Dra. Yêda Pessoa de Castro

15h - Comunicação: O mundo religioso do negro da Bahia, Vitorino dos Santos – Prof. Doutorando. Jaime Sodré

16h - Comunicação: Elogio a um chefe de seita, Jorge Amado – Prof. Dr. GildeciLeite

17h - Comunicação: Castro Alves e a poesia negra da América, Aydano do Couto Ferraz – Prof. Dr. Sílvio Roberto Oliveira

Dia 13/09 (quinta-feira)

9h - Comunicação: Deuses africanos e santos católicos nas crenças do negro do novo mundo, Melville J. Herskovits – Prof. Dr. Nicolau Parés

10h - Comunicação: Costumes e práticas do negro, Ademar Vidal – Prof. Dr. Walter Fraga

11h - Comunicação: Contribuições Bantus para o sincretismo fetichista, Reginaldo Guimarães – Prof. Doutorando Anselmo Santos

12h - Intervalo para Almoço

14h - Comunicação: A liberdade religiosa no Brasil: a macumba e o batuque em face da lei, Dário de Bitencourt – Prof. Dr. Jocélio Teles

15h - Comunicação: Presença africana na música nacional de Cuba, Salvador Garcia Argüero – Profa. Me. Alessandra Carvalho da Cruz

16h - Comunicação: A concepção de Deus entre os negros iorubas, LadipôSulankê – Profa. Dra. Vanda Machado

17h - Lançamento do livro: O intelectual feiticeiro: Edison Carneiro e o campo de estudos das relações raciais no Brasil

SERVIÇO

Simpósio II Congresso Afro-Brasileiro: uma releitura 81 anos depois

11 a 13 de setembro de 2018

Instituto Geográfico e Histórico da Bahia

Avenida Joana Angélica, 43 – Piedade

www.ighb.org.br

Assessoria: 71 3329 4463/ 99974 5858

INSCRIÇÕES ENCERRADAS

HISTÓRICO:
O simpósio tem como fulcro o estudo, a difusão, a rememoração e avaliação dos legados do II Congresso Afro-Brasileiro, realizado em Salvador, Bahia, de 11 a 20 de janeiro de 1937, sob a coordenação da Comissão Executiva formada por Edison Carneiro, Martiniano Bonfim, Aydano do Couto Ferraz, Azevedo Marques e Reginaldo Guimarães.
Eram objetivos “estudar a influência do elemento africano no desenvolvimento do Brasil, sob o ponto de vista da etnografia, do folclore, da arte, da antropologia, da história, da sociologia do direito, da psicologia social, enfim de todos os problemas de relações de raças no país”.
O 2º Congresso Afro-Brasileiro centralizou o debate na realidade da população afro-brasileira, tendo em consideração que nele tomaram parte não só os intelectuais e estudiosos da temática afro-descendente; participaram também sacerdotes do culto afro, ou povo de santo, que de forma inédita, até aquele momento, abriram os terreiros e barracões, realizando atividades especialmente para os participantes do Congresso. Como dito nas palavras inaugurais: “Eminentemente científico, mas também eminentemente popular, o Congresso não reúne apenas trabalhos de especialistas e intelectuais do Brasil e do estrangeiro, mas também interessa a massa popular, os elementos ligados por tradições de cultura, por atavismos ou por quaisquer outras razões, à própria vida, artística, econômica, religiosa, do Negro do Brasil”.
Em 1936, Édison Carneiro convidou Martiniano Eliseu do Bonfim para ser o Presidente de Honra do 2º Congresso Afro-Brasileiro, papel que ele exerceu com grande interesse e dignidade. À véspera da abertura oficial do Congresso, o jornal Estado da Bahia, em sua edição de 9 de janeiro de 1937, publicava com destaque: "O 2º Congresso Afro-Brasileiro Na próxima segunda-feira, 11, às 15 horas, no Instituto Histórico da Bahia / A sessão será presidida pelo Professor Martiniano do Bonfim, antigo colaborador de Nina Rodrigues". Já na edição do dia doze, noticiava: “Segundo Congresso Afro-Brasileiro. Como decorreu a sua sessão de instalação. Presidida por Martiniano do Bonfim, o antigo colaborador de Nina Rodrigues, realizou-se ontem, conforme estava marcada, a sessão inaugural do Congresso Afro-Brasileiro da Bahia (...) Presente grande número de congressistas, o escritor Áydano do Couto Ferraz leu o termo de abertura do Congresso, assinado pela Comissão Executiva e logo em seguida passou a presidência ao Professor Martiniano do Bonfim, que se achava ladeado pelo escritor Édison Carneiro e pelo juiz federal Mathias Olympio”.
Martiniano do Bonfim teria, ainda, uma participação definitiva na organização da União de Seitas Afro-Brasileiras, criada em decorrência de uma das resoluções do Congresso.
Quanto à festa do Opô Afonjá, por ocasião do II Congresso Afro-Brasileiro, foi assim noticiada o Estado da Bahia de 14 de janeiro: “Tiveram grande brilhantismo as festas de ontem do 2º Congresso Afro-Brasileiro. À noite os congressistas em marinetti especial, foram visitar o Centro Cruz Santa do Axé do Opô Afonjá, de D. Aninha, em São Gonçalo do Retiro. Ali os esperava uma festa especialmente preparada para os congressistas. Todo o terreiro estava aberto à visita dos congressistas. A festa do Opô Afonjá encantou sobremaneira os congressistas”.
Para o Prof. Vivaldo da Costa Lima: “É bom que se evoquem esses fatos, tantos anos depois de ocorridos quando uma mãe-de-santo tradicionalista e rigorosa não hesitou em organizar uma festa em seu terreiro, fora do calendário ritual, para uma finalidade que ela considerou (e o Xangô da casa decerto confirmou!) necessária a um propósito válido. Não houve, então, contudo, qualquer concessão indevida, nenhuma quebra de norma - mas o pleno exercício da autoridade e da capacidade de decidir, dentro da coerência dos princípios, do ‘ritmo da casa’, como costuma dizer a ialorixá Senhora. Aninha cumpriu o prometido a Carneiro e preparou um pequeno trabalho sobre a culinária africana, entregue aos organizadores do Congresso, depois do seu final, e por eles incluídos como Apêndice ao volume O negro no Brasil, (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1940), com o título ‘Nota sobre comestíveis africanos’. A ‘Nota’ é uma breve lista de vinte cinco qualidades de comidas, todas com nomes iorubás (menos uma – ‘farofa’) e descritas - as que o foram, com extrema simplicidade, com breves referências à forma ou ao ingrediente básico nelas utilizados. Nenhuma informação, no entanto, sobre a "maneira de fazer" e, menos ainda, ao seu possível emprego ritual no candomblé. Esse despojamento nas ‘receitas’ de Aninha indica, claramente, no campo da comida ritual, o que significa, para o povo-de-santo, a reserva nas ‘coisas-de-fundamento’. Pois as "comidas africanas" listadas por Aninha eram, todas elas, comidas-de-santo, oferecidas nas obrigações aos orixás, que têm suas próprias preferências alimentares, sempre associadas a seus mitos e a uma complexa prescrição simbólica. Aninha ficou, assim, para atender ao pedido de Carneiro, no extremo limite que podia se permitir: uma lista quase sinótica de comidas africanas, sem de nenhuma maneira relacioná-las com os sacrifícios e as oferendas votivas aos orixás. Atendeu ao pedido do amigo, mas o fez com as reservas do seu código de mãe-de-santo”.
Registre-se ainda a grande rede de solidariedade, formada em apoio ao 2º Congresso Afro-Brasileiro. Contando com a participação de instituições religiosas e laicas, entre as quais o Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo, que ofereceu importante ajuda institucional, e era então dirigido por Mario de Andrade, o Instituto Histórico da Bahia, presidido por Theodoro Sampaio, e, pelo Instituo Nina Rodrigues, dirigido por Estácio de Lima.
Saliente-se também a grande expectativa que cercou à realização do II Congresso Afro-Brasileiro. Tendo em vista o debate que se instalou desde que Gilberto Freire, principal organizador do I Congresso, realizado no Recife, em 1934, declarou, em entrevista ao Diário de Pernambuco, não acreditar no sucesso do II Congresso, e muito menos na participação de estudiosos estrangeiros entre os quais destacava o Prof. Melville Herskovits. Gilberto Freire ignorava que Herskovits já teria enviado o seu trabalho.
Em sua contribuição a esse Congresso, Jorge Amado ressaltou a importância dos Congressos de 1934 e 1937 para o desenvolvimento dos estudos afro-brasileiros e o aparecimento de Arthur Ramos, como um dos intelectuais dedicados a essa temática. Segundo Amado a produção acadêmica dos especialistas em estudos afro-brasileiros teria rompido com a “vergonha” ou “covardia” da intelectualidade brasileira em “reconhecer e estudar” a “contribuição do negro à formação da nacionalidade” ou ainda “da contribuição do trabalho, da inteligência do negro à formação do país, do Brasil”
No momento em que o debate e a implementação de ações de reparação aos afro-descendentes e sua inclusão nos mais variados espaços e esferas da vida social brasileira configura-se como uma realidade. A reedição do 2º Congresso Afro-brasileiro tem, entre tantos outros, o mérito de contribuir para tal debate.
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