Mawó Adelson Brito lança livro e CD sobre EXU
Autor: Mawó Adelson de Brito
Por que escrevi o livro “Exu: Exu Elebara é Vodun Léba”
Esse livro representa o marco de realização dentro uma trajetória de esforços na direção de um melhor entendimento dos cânticos entoadas nos processos litúrgicos do Candomblé Jêje-Iorubá-Nagô da Bahia. Acho que poderia definir como ponto de início um episódio que me marcou profundamente. Foi assim:
Nos anos 1980, comecei a interagir com estudantes nigerianos do programa de intercâmbio entre as Universidades Ilê-Ifé e Universidade Federal da Bahia. Falante de Inglês, comecei a checar o fraseado Iorubá dos meus novos amigos, nossos jovens irmãos Iorubá. É que eu, dominando as letras dos cânticos do Candomblé Keto-Iorubá-Nagô, ao levá-los a uma festa de Candomblé, percebi que eles não entendiam o que estava sendo cantado. De início julguei que se tratasse de um desfasamento natural entre gerações e suas respectivas formas características de comunicação (as formas da comunicação utilizadas, naturalmente são diferentes) entre os que vieram como escravos no século XIX e as formas de comunicação em uso nos anos 1970/80). A coisa foi assim até que, em um Congresso que aconteceu em Salvador àquela mesma época, eu fui convidado para trabalhar como tradutor do artista Iorubá de fama mundial, Michel Babatunde Olatunji. Ele percebeu o meu esforço quanto ao objetivo de aprender a língua Iorubá para entender o que estava cantando para Orixá. Um dia, ele me pediu assim: “Cante para Exu”. Eu cantei o que aprendi do disco “Candomblé da Bahia” de Luiz da Muriçóca. Ao terminar de cantar, ouvi do meu interlocutor Iorubá o seguinte comentário: “Não é assim. Está errado...”. Depois de muitas pesquisas ao longo da convivência, de um lado com a Lliturgia Jêje-Iorubá-Keto-Nagô e do outro com nossos irmãos e irmãs Iorubá, oriundos da Nigéria e de outras partes do mundo, membros das mais variadas camadas das comunidades Iorubá em todo o mundo. Começo agora a publicar os resultados na forma de Song books, ou livro com as letras dos cânticos em suas respectivas versões originais em èdè Yorùbá [língua Iorubá] ou em Fɔngbè [língua Fon] + CD com a gravação das respectivas versões sonoras dos cânticos.
Aproveito para dedicar especial apreço ao meu amigo Misbah Wale Akanni, a quem conheci naquela época que referencio aqui, ele na condição de estudante do programa de intercâmbio citado e que é um irmão Iorubá que vive e é comerciante de artigos africanos, domiciliado junto com sua esposa Lola, em Salvador.
Esse livro é também o resultado do trabalho de muitas mãos.