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Leda Jesuíno: Consuelo Pondé, uma forte presença

Definida, determinada, Consuelo sempre marcou sua presença. As lágrimas derramadas desde o momento de sua partida expressam não apenas a nossa saudade do seu conviver inesquecível, sempre aconchegante e pleno de uma vivacidade expressiva, comentários significativos envolvidos em sua alegria que advinha do seu self, ou seja, de dentro de “si mesma”. Não apenas a saudade de uma ausência amiga, mas, principalmente, a falta da personagem especial, diferenciada, marcante que, no cenário acadêmico, intelectual, onde viveu e pontificou: desde que, como, excelente aluna de Edelweiss ainda na graduação, o estudo do Tupi absorveu seus pensamentos até quando seus ilustres professores como Thales de Azevedo, Jorge Calmon, Carlos Ott e muitos outros, a esculpiram, preparando-a, por certo, para uma atuação diferenciada, o que realmente aconteceu.

Esta ausência, também, não significa apenas a saudade de alguém que partiu, mas torna vazio um espaço difícil de ser preenchido, em face da versatilidade de seu jeito especial de ser, de sua inesquecível jovialidade.

Sua palavra era límpida, traduzia sempre um sentimento puro, que vinha do seu coração, sem qualquer contaminação racional perturbadora. A sua fala era essencialmente cordial (do cor cordis latino). Tinha na boca o que tinha no coração. Como boa historiadora, cultivava a verdade histórica e, na vida de relação, no seu âmbito social, era a verdade de sua alma que prevalecia na sua fala, no seu contato quotidiano com o outro.

No difícil desempenho da mulher que tenta conciliar sua vida profissional com sua vida familiar, sua performance foi admirável. Certa vez, confessou-me, preocupada: “Os problemas profissionais não me afligem, porém os familiares me perturbam”. O texto de Fernanda Pondé Sena Arandas, publicado no dia 20 deste mês, na Tribuna da Bahia, é um comovente depoimento de uma neta que conviveu de modo extraordinariamente saudável e feliz com uma avó presente, atuante, conselheira, educadora, sobretudo amorosa e culta. Sua vida conjugal com Plínio Garcez de Sena foi alvo das mais belas lembranças que sua neta guarda como joia preciosa de sua infância.

Consuelo guardava em si uma dose de grande amorosidade, que se derramou sobre sua família e inundou o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) de dedicação e energia, numa gestão eficiente e eficaz, destacando-se no cenário nacional.

Durante mais de duas décadas, Consuelo não apenas viveu no IGHB, ela viveu o IGHB! Ali conviveu com historiadores, escritores, sociólogos, antropólogos, médicos famosos, personalidades marcantes do meio intelectual, o que lhe permitia horas de vivências prazerosas, quando encontrava campo para expor suas ponderações, suas reflexões, sempre como era próprio do seu temperamento, sendo ela mesma, autêntica, fiel a suas convicções, sem artifícios, direta e franca. Assim era Consuelo Pondé de Sena, seja no âmbito intelectual, seja no social.

No clima bem humanista e intimista da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade Federal da Bahia, que guardou, por algum tempo, o ideal de Isaias Alves e sua influência pessoal, Consuelo era também uma idealista e amava o que fazia. Suas realizações profissionais eram produtos do seu vigor intelectual, aliado a sua criatividade espontânea, o que resultava em sucesso e notoriedade.

No Jardim da Saudade, seu corpo desceu para ser cremado, porém sua alma ascendeu para atingir, sem dúvida, a Doxa Theou dos teólogos – a Glória de Deus. Quando algum tempo estivemos juntas em busca da espiritualidade, foi sempre a Deus que ela quis chegar através de sua generosidade, compreensão e, sobretudo, amorosidade, com que pautou sua vida entre nós, dentro do princípio bíblico: “Ama a teu próximo como a ti mesmo”.

Fonte: Correio da Bahia

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