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Dos anos 1950 a 1952

Concluído o curso ginasial no D. Anfrísia, que não havia ainda instalado o colegial, tive, por imposição paterna, matricular-me nas Mercês, porquanto, meu pai não desejava, nem permitia, que eu fosse estudar no Colégio Central, povoado de irrequietos rapazes.

Lúcia, minha irmã, não recebia qualquer tipo de censura. Era, sim, um modelo de discrição, bom comportamento e aplicação aos estudos.

Por esse motivo, lá fui eu para um colégio de madres ursulinas, muitas delas francesas ou de língua francesa. Confesso que não me importei com a troca estratégica da minha família. Sabia que, longe dos rapazes, ficaria ao abrigo de mentiras e más interpretações.

O Colégio Nossa Senhora das Mercês desfrutava, então, de grande prestígio educacional e social.

Frequentado pelas moças da alta sociedade, era um espaço privilegiado de acolhimento da grã-finagem da Barra, Graça, Canela e outros bairros mais chiques, dos hoje denominados vips ou socialites.

Claro que morando do outro lado da cidade, sempre em Nazaré e, naquele momento, na Ladeira do Arco, ficasse um pouco “constrangida” em conviver com essas das moradoras das áreas nobres de Salvador.

Talvez, seja interessante informar que, os chiques, consideram os demais, fora do seu circuito, verdadeiros “índios”, forma de discriminar quem não morava por aquelas bandas. Mas, pouco me importei com esse “bulling”. Era muito disposta, topava discussão e não me importava com o desdém das “deslumbradas”.

Tanto isso é verdadeiro que minha fama de desabrida já me acompanhava desde D. Anfrísia. Lembro-me que algumas meninas das Mercês vinham até a minha sala, de primeiro ano colegial, para saber quem eu era. Parece que estou vendo Maria David de Azevedo chegar à porta da sala em que me encontrava e indagar quem era a “maluquinha” Consuelo Montanha Pondé, cuja fama de traquina corria longe. Tenho absoluta certeza de que fiquei muito orgulhosa por ter sido logo destacada, embora não fosse lá de muito estudo. Preferia criar um monte de coisas e repassá-las para as meninas atônitas diante de tantas informações. Era muito grande o poder da minha imaginação e até hoje “driblo” muita gente, contando coisas inverossímeis. O pior é que muita gente acredita.

Mas entre minhas colegas daquele tempo, 1950 a 52, havia algumas brilhantes. No Clássico, a que eu integrava, estava a “estrela maior”, Zilma Gomes Parente, recém chegada de Niterói. Uma inteligência e um preparo raros, que ela jamais economizou para ajudar as companheiras mais fracas. Até hoje, comove-me a sua simplicidade genuína e seu desapego em repartir o que sabe. Para mim, é um paradigma de mulher completa. Educada, gentil, prestimosa, amiga.

No científico, pontuava Sônia de Coni Campos, que saiu do colégio pouco tempo depois para casar-se, garota ainda, com Fernando Wilson Magalhães, com quem teve seis filhos homens, todos vitoriosos. Cumprida sua missão de mãe de família, voltou aos estudos e hoje é psicanalista de sucesso.

Fiz excelentes amigas nas Mercês. Branca Maciel Hortélio, amiga irmã, também não primava pela aplicação. Era muito revoltada por ser aluna do internato, não fazendo boas referências ao que sofreu das freiras. Aurora Sarno, Maria José Peixoto (Zezé), Mona Harfush, Thereza Perazzo, Florentina Silva Santos, Léa Sarno, Therezinha Magalhães Cordeiro, Nadja Cruz Andrade, Mab Gomes Costa, Thereza Parga, Alzira Moreira, Maria José Freire de Carvalho, Wanda Dias e outras tantas que não me recordo no momento, faziam parte de dois cursos distintos, Clássico e Científico, reunidos apenas em determinadas aulas.

Bem, no momento, é o que posso recompor, só puxando pela memória para lembrar outros nomes.

Tribuna da Bahia

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