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Termos tupis incorporados ao léxico português

Consuelo Pondé de Sena

Presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e membro da Academia de Letras da Bahia

De vez em quando me ocorre a ideia de que são poucos os brasileiros que se interessam pelas palavras tupis que pronunciam. Desinteresse? Desinformação? As duas situações, penso eu.

Por conta dessa situação, lembrei-me de tratar de alguns vocábulos muito comuns a todos os que se utilizam do português do Brasil.

Assim, inicio essas considerações com o termo aipim, a nossa tão útil e conhecida mandioca, indispensável na economia doméstica dos brasílicos, objeto de consideração dos antigos cronistas. Sobre a mandioca deixaram interessantes informações relativas ao cultivo, ao uso, e às qualidades dessa raiz.

Tão importante para a vida dos índios e dos colonos foi a mandioca que Gabriel Soares dedicou-lhe vários capítulos do seu Tratado, a que Pohl denominou “Manihot utilíssima”. Sobre o assunto, Pinto de Aguiar escreveu curioso estudo intitulado “Mandioca, pão do Brasil”. Existem muitas variedades de mandioca. Os aborígenes as reconheciam, bem assim os sertanejos e agricultores. A raiz que usamos em várias oportunidades é a mandioca doce, conhecida como macaxeira no Norte e Nordeste do Brasil. Dela também são feitas farinhas de amplo uso no país.

Ainda iniciado com o fonema A, temos o vocábulo Arapuca, que traduz uma espécie de armadilha com que ainda hoje se apanham pássaros, amplamente usada pelos primeiros habitantes do Brasil. Todavia, seu sentido ampliou-se passando a significar perigo oculto, engôdo, trapaça.

O Beijú é definido nos dicionários como um bolo feito de farinha de mandioca muito fina. A farinha de mandioca é o seu material básico, mas pode ser fresca ou puba (carimã), fina ou grossa, torrada ou socada. Preparados desde tempos imemoriais, são até hoje muito conhecidos e usados, sendo atualmente servidos e apreciados nos mais distintos salões da sociedade. O designativo genérico beijú é simplesmente mbeîu (mbeiju), de onde proveio o atual beijú sem alteração alguma, pois o desaparecimento do mb é processo comuníssimo na vernaculização.

Existem inúmeras denominações de beiju, a exemplo de beijú-sika, espécie de folhado feito de massa de mandioca fresca, sobre o forno quente e depois, aí mesmo, cortado e torrado. Há também o beijú membeka, dembeyú e membeka, mole. Em seguida, vou tratar de biboca que, na linguagem popular brasileira traduz: casebre, casa acanhada, mas também: barrancos e buracos formados pelas enxurradas.

Bernardino de Souza sustenta que nos sertões da Bahia e estados vizinhos, a expressão designa: “qualquer casa pequenina coberta de palha ou telha”. O termo provém de Yby- terra e boka partido, fendido. O uso do termo para designar esse tipo modesto de habitação deve ser uma alusão a uma casa que não passa de uma fenda de um barranco, de uma caverna que mal se habita. Boka é um verbo intransitivo que significa: fender-se, rachar-se; fenda.

Bubuia é o termo sempre usado na locução adverbial-de bubuia, significando, conforme anotou Beaurepaire Rohan-flutuação, ato de boiar, flutuar, sobrenadar, rolar ou deslizar ao sabor das águas. Proveniente do vocábulo tupi, temos o verbo bubuiar, muito conhecido, e o adjetivo bubuiante.

Caatinga ou catinga como vulgarmente se pronuncia é a região caracterizada pelas florestas de pequeno porte, de folhas fracas e que abrange ampla região do Brasil, a partir do vale superior do São Francisco, ainda pertencente a Minas Gerais, grande parte da Bahia, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, parte norte de Goiás e sul do Maranhão. Bernardino de Souza estuda em sua “Onomástica Geral da Geografia Brasileira” vários tipos de catingas: catingão, catinga, catinga alta, catinga baixa, catinga brejada, catinga carrascal, catinga legítima, catinga mestiça, catinga de igapó. Do étimo derivam-se catingal, empregado por Capistrano de Abreu, e catingueiro, homem que percorre ou habita a zona das catingas, ou ainda o local que produz matas ou capoeirões assemelhados com a catinga. Do tupi: kaá–mato e tinga –branco. Curiosamente, o Padre Lemos Barbosa registra: catinga, com a acepção de fartúm, catinga (mau cheiro).

Por fim, Theodoro Sampaio aduz: corruptela de caaá-tinga, o mato branco, alvacento, especial das regiões secas do Brasil de Nordeste. Outras versões para origem do termo foram revistas e corrigidas por Frederico Edelweiss e não merecem referidas. Por hoje é só, não há mais espaço para outras observações.

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