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O brasileiríssimo escritor Ariano Suassuna

Trazia no próprio nome a marca impressa da sua brasilidade. Suassuna é um antroponímico de origem tupi, cuja tradução contraria a masculinidade do nosso grande escritor, pois procede de sigûaçu(suaçu) - veado e uma preto, logo, veado preto. É um desses nomes de família que, após a Independência do Brasil, substituíram os nomes portugueses, conforme escreveu Frederico Edelweiss, no seu esclarecedor trabalho: “A Antroponímica Brasileira da Independência”.

Meu primeiro contato com Ariano aconteceu no Recife, quando o visitei em sua casa em 24 de julho de 1986, em companhia de Gabriela Martin, professora da UFPE e esposa do historiador Armando Souto Mayor, em cujo confortável apartamento sempre me hospedei. Era um antigo sonho meu estar diante daquele escritor nordestino, nascido na Paraíba, mas radicado no Recife, onde era muito apreciado. Ao chegarmos à bela e singular residência da Rua Chacon, em Casa Forte, senti-me muito acolhida pelo casal.

Conversamos a tarde inteira e Zélia, sempre solícita, mimou-nos com a doçaria pernambucana e um saboroso cafezinho. Essa imagem vai me acompanhar sempre, porque nunca tinha estado com alguém tão famoso e tão cordial nas suas expansões de amizade. Mostrou-me tudo, à sua volta, biblioteca, iluminuras, os tapetes de parede, sua alma acolhedora de sertanejo vivendo na cidade grande, mas carregando consigo, por inteiro, a sua nordestinidade inconteste.

Nunca antes havia conhecido os seus poemas, julgava-o apenas prosador e dramaturgo. Diante desse desconhecimento, tomei a liberdade de solicitar-lhe que escrevesse num papel um dos versos que mais me agradaram. E ele, solícito, escreveu com sua caligrafia inconfundível o soneto Lápide, que transcrevo em sua homenagem.

“Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo nas pedras do meu Pasto incendiado: fustiguem-lhe seu Dorso alanceado, com a Espora de ouro, até matá-lo. Um dos meus filhos deve cavalgá-lo numa Sela de couro esverdeado, que arraste pelo Chão pedroso e pardo chapas de Cobre, sinos e badalos. Assim, com o Raio e o cobre percutido, tropel de cascos, sangue do Castanho, talvez se finja o som de Ouro fundido que, em vão – Sangue insensato e vagabundo — tentei forjar, no meu Cantar estranho, à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!” Copiado para Consuelo Pondé de Sena, como lembrança do dia em que nos visitou”. Recife, 24.VII .86. A.S.

Daquela data em diante, nunca mais nos perdemos de vista ou deixamos de estabelecer contato. Tanto assim que , quando aqui esteve em 2002 , autografou o Caderno de Literatura Brasileira, publicado pelo Instituto Moreira Sales, dedicado à sua obra, nos seguintes termos: “Para minhaquerida Consuelo, agradecendo de todo coração o apoio que me deu desde o primeiro dia de sua visita à minha casa. Com um beijo bem grande de Ariano Suassuna. Salvador, 9.VII .2002. A.S.

Em 1946 começa o Curso de Direito no Recife e entra em contato com vários escritores Participa da criação do Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP), iniciativa de Hermilo Borba Filho, por cuja influência começou a ler a obra do poeta e dramaturgo espanhol Frederico Garcia Lorca. Publica, na revista Estudantes, daquela Faculdade, seus primeiros poemas ligados ao romanceiro Popular nordestino, influenciado por Lorca.

Em 1947 participa do Prêmio Nicolau Carlos Magno e escreve sua primeira peça teatral: “Uma mulher vestida de sol,” texto baseado no Romanceiro do Nordeste, que venceu o concurso. Sua obra prima é o romance “A Pedra do Reino”, com inúmeras edições e traduções para idiomas estrangeiros.

Casou-se com Zélia, amor da sua vida, e tiveram seis filhos: Joaquim, Maria, Manuel, Isabel, Mariana e Ana Rita. Muito mais teria a dizer sobre o saudoso amigo, mas o espaço de que disponho não me permite escrever mais sobre essa irremediável perda.

Em agosto de 2002, por indicação do IGHB, União Brasileira de Escritores – Secção Pernambuco e Universidade Salgado de Oliveira (Recife), Ariano Suassuna recebeu o Prêmio Nacional Jorge Amado de Literatura e Arte, promovido pela Secretaria de Cultura e Turismo do Estado da Bahia.

Por último, lamento que, por motivos alheios à minha vontade, não pude estar com Ariano na sua última visita a Salvador, quando se apresentou no Teatro Castro Alves.

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