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O acesso à Faculdade de Filosofia

Na década de 1940 não existiam, em Salvador, faculdades destinadas às mulheres. Após concluírem os cursos de formação, poucas, pouquíssimas dessas moças, se atreviam a frequentar as faculdades tradicionais, reduto masculino quase que exclusivo.

Não sei se orientada pela formação de educador, o fato é que, Isaías Alves de Almeida, com um grupo de colegas e amigos, criou a Liga de Educação Cívica, que tinha, entre seus pressupostos, fundar a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Bahia, Casa de ensino superior, origem à atual Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.

Sem sua existência seria inviável criar a futura Universidade, exigência daquele momento. Para haver universidade era imprescindível existir uma Faculdade de Filosofia - a matriz das demais, embora houvesse surgido mais tarde.

Isaías Alves, a quem tive a honra de conhecer, era um idealista, um obstinado pela educação. Fez dela a razão de sua vida e a motivação para a sua atividade profissional.

Ao fundar a Faculdade de Filosofia possibilitou o acesso feminino àquela instituição, embora não houvesse restrição ao ingresso dos homens, todos submetidos ao exame de vestibular, em igualdade de condições.

Tendo preferência pelos campos de geografia e história, preparei-me para o rigoroso exame de vestibular, consciente de que aquele era o meu caminho profissional.

Fui classificada em primeiro lugar, ao lado de quatro colegas, e senti que havia acertado na minha escolha. Por seu turno, meu pai considerava a profissão de professora a ideal para as mulheres, bem de acordo com os papéis preferenciais das mulheres da época: Mãe e Professora. Sempre quis trabalhar, jamais me amoldei ao papel secundário destinado às mulheres do meu tempo.

Como não havia os cursos referentes à Faculdade de Filosofia, o fundador da Casa apelou para a convocação de mestres de outras unidades: Direito, Engenharia e Medicina para constituírem o corpo decente da novel instituição. E, assim, foram recrutados profissionais de outras áreas do conhecimento, que pudessem ajudá-lo na operosa missão.

Foi assim que conheci Thales de Azevedo, Mário Barros, Antonino de Oliveira Dias, João de Matta Barros, Virgílio Oliveira, Gelásio de Abreu Farias (um veterano que voltou a lecionar), José Moreira Pinto, Cassilandro Barbuda, Guiomar Florence, Gina Magnavitta, Frederico Edelweiss, Carlo Ott, Dalmo Pontual, João Mendonça, Antônio do Prado Valadares, Godofredo Filho, Acácio Ferreira, Afonso Pitangueira, Luiz de Moura Bastos, Rosa Florence, José Higino Tavares de Macedo, Raul Baptista, D. Edith Mendes da Gama e Abreu, Francisco da Conceição Menezes, Francisco Peixoto de Magalhães Neto, Hélio Simões, Lafayette Pondé, Antônio Balbino de Carvalho Filho, Gabriela Sá Pereira, Hélio Ribeiro, Edgar Sanches, Jorge Calmon Moniz de Bittencourt, Roberto Correia, Pedro Tavares, Magno Valente, Alceu Hiltner, Manoel Peixoto, Aurélio Laborda, Lauro Sampaio, enfim, um cem número de professores que, sob a batuta firme do grande Maestro, modificaram o panorama do ensino na Bahia.

O alunado era super qualificado. Pessoas cultas, que desejavam se reciclar nos estudos, jovens que haviam concluído cursos de formação e não tinham mais o que cursar, oficialmente, moças casadoiras, que não desejavam perder a oportunidade de acrescer seus conhecimentos, enfim, gente preparada que dava valor ao saber, à cultura, ao estudo.

A Faculdade, instituída em 1940, passou a funcionar em 1941, nela inscrevendo-se, entre outras, Lavínia Machado, Maria Thetis Nunes (Sergipe), Leda Ferraro (mais tarde Jesuino dos Santos), Marta Dantas, Letícia Tarquino de Souza.

Como disse, os professores eram recrutados das suas unidades de ensino. Portanto, improvisados autodidatas. Alguns buscavam esconder essas deficiências, procurando estudar, meter a caras nos livros, na tentativa de que, pouco ou nada sabiam. Dava dó vê-los tão embaraçados.

Para mim, os melhores dentre os selecionados por Isaías Alves, que tinha muitos “protegidos, conseguiram aprovação“, na maioria do alunado, eram: José Wanlerley de Araújo Pinho (substituiu Luiz Viana Filho), Frederico Edelweiss (um sábio missioneiro do Rio Grande do Sul), Thales de Azevedo, Dalmo Pontual, Gina Magnavita, José Tavares de Macedo, enfim, outros nomes relacionados com as demais áreas, que não posso avaliar, porque não me ensinavam.

Este texto pode e deve ser desdobrado, porque o assunto é muito extenso e comporta diversas interpretações.

Tribuna da Bahia

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